quarta-feira, 28 de agosto de 2013

MORDOMIA DA PALAVRA

Civilizações do livro
Desde sempre os humanos sentiram necessidade de passar para escrito as suas experiências existenciais. Com uma natureza com tendência para a idolatria, os primeiros registos foram para os seus próprios feitos ou para experiências religiosas.
Com o desenvolvimento da escrita e dos processos de registo, as diversas civilizações criaram códigos religiosos e descritivos das suas experiências metafísicas.
Ainda hoje os habitantes deste planeta têm por base da sua existência os escritos religiosos com que alimentam a sua alma e dão existência ao seu espírito.
Cada religião tem os seus livros sagrados, até a religião dos ateístas ou a religião dos agnósticos têm as suas crenças baseadas em escritos dos seus teólogos. Como tal ao estudar-se algum livro sagrado é preciso ter-se respeito pelos livros das outras religiões pois servem de consolo a milhões de pessoas, que acreditam piamente na sua fé e tradições. É preciso ter cuidado pois o crente de cada religião acha que o seu livro é único e verdadeiro.


Como cristãos, somos Mordomos da Palavra e tornamo-nos responsáveis em preservar a Bíblia como “O Livro”. Como administradores devemos manter intacta a propriedade divina ao sermos praticantes dos seus princípios mostrando assim a unidade com o conteúdo e o respeito com o mentor, demonstrando lealdade e conhecimento real com o “Logos.



Formação do cânone

O mordomo deve conhecer a história daquilo que administra. No caso da Bíblia, deve conhecer como foi formada, os critérios de escolha dos livros e outros assuntos de interesse.

Velho Testamento
Profetas, reis, sacerdotes, escribas, homens do povo e poetas escreveram a maneira como se relacionavam com Deus e a importância que isso tinha na sua vida e na vida de todo um povo, na sua organização, no seu relacionamento e até nas suas origens.
Os escritos foram sendo organizados em grupos e o mais conhecido e usado entre os hebreus da altura era designado como “A LEI” e correspondia aos cinco primeiros livros da nossa Bíblia. Mais tarde juntaram-se outros conjuntos de cartas que designavam como “OS PROFETAS”.
No entanto o cânone do Antigo Testamento só foi fechado com o aparecimento do cristianismo, pois os judeus tiveram medo que os textos dos cristãos pudessem vir a ser integrados e aceites como canónicos.
A forma como hoje conhecemos o que chamamos de Velho Testamento só ficou completa no concílio judaico de Jamnia, por volta do ano de 95 DC. Além de “A Lei”, consideraram que só poderiam ser válidos os livros que tivessem as seguintes condições:
- Deveriam ter sido escritos na Judeia;
- Escritos somente em hebraico, nem em aramaico, nem em grego;
- Escritos antes de Esdras (455-428 a.C.);
- Sem contradição com a Torá ou lei de Moisés.

Esta decisão entre os judeus ainda hoje é polémica, nem todos a aceitam, com os mais variados argumentos, entre eles alguns consideram que alguns livros estão mal datados, outros queriam integrar
Na altura dividiram-nos em três conjuntos:
“A LEI”, com os primeiros cinco livros da nossa Bíblia.
“OS PROFETAS”, incluíam Isaías, Jeremias, Ezequiel, os Doze Profetas Menores, Josué, Juízes, 1 e 2 Samuel e 1 e 2 Reis.
“AS ESCRITURAS” reuniam os Salmos, Provérbios, Jó, Ester, Cantares de Salomão, Rute, Lamentações, Eclesiastes, Daniel, Esdras, Neemias e 1 e 2 Crónicas.


Novo Testamento
No inicio do cristianismo o evangelho era pregado com base no ensino e escritos dos apóstolos. Com o crescimento e multiplicação das comunidades cristãs começaram também a multiplicar-se os escritos. A maior parte deles eram de origem duvidosa e outros utilizando autorias falsas. Surgiram também várias doutrinas e todas elas se intitulavam de verdadeiras. Foi necessário reunir os escritos que circulavam e escolher os que fossem realmente verdadeiros e idóneos. Foi um processo que demorou anos e foram utilizados vários critérios.
Os cristãos tiveram receio que devido à quantidade de textos que circulavam, alguns menos próprios pudessem ser transformados em ensinamentos. Então resolveram também criar um cânone cristão.
Reuniam-se em concílios e os critérios de selecção foram os seguintes:
I.       Apostolicidade - Este foi o principal critério de aceitação dos livros como inspirados, pois dependia de ter sido escrito pelos apóstolos ou por alguém que conviveu com eles.
II.    Aceitação e utilização por parte das Comunidades Cristãs. O uso que a igreja fazia dos livros na sua liturgia era evidência da canonicidade de um livro. O motivo era simples, os livros que não eram canónicos a igreja não os aceitava como litúrgicos.
III. Coerência Doutrinária - Qualquer livro que ensinasse doutrinas contrárias às dos apóstolos era rejeitado.
IV. Inspiração - O livro deveria mostrar que havia sido divinamente inspirado. Este era o teste final, que servia como demarcador da área de acção e o rumo a ser tomado.  

O reconhecimento oficial do cânone foi no ano de 397, no Concílio de Cartago, e reconheceu os 27 livros contidos no Novo Testamento.
Relativamente ao Velho Testamento, os cristãos aceitaram como canónicos os 39 livros aprovados no concílio dos judeus de Jamnia.
A Igreja Católica, no concílio de Trento, com inicio em 1545, o denominado concílio da contra reforma, acrescentou os chamados livros apócrifos ou deuterocanónicos.




CURIOSIDADES

A palavra cânone vem do grego “kanóni” ou “kanon” em hebraico é “qenéh”. Significa um “régua” ou “vara” para servir de medida e a partir daí para servir de regra ou padrão.
Aplica-se à Bíblia pois significa que os livros foram medidos, declarados satisfatórios e aprovados como tendo sido inspirados por Deus.

A palavra Bíblia entrou para as línguas modernas por intermédio do francês, passando primeiro pelo latim biblia, com origem no grego biblos. Originariamente era o nome que se dava à casca de um papiro do século XI AC, utilizado na escrita, e mais tarde entrou no vocabulário como designação de textos (livros) ou conjunto de textos (biblioteca). Por volta do século II DC, os cristãos começaram a usar a palavra Biblos para designar os seus escritos sagrados.

O método de divulgação era a cópia manual. Os manuscritos eram copiados à mão em papiro e pele, por isso eram caros e frágeis.
Como as cópias eram feitas à mão por vezes aconteciam inexactidões. Mesmo assim, ainda hoje é um milagre não só a preservação do texto em si, como a sua existência, pois foram vítimas de destruição e perseguição.

Os últimos livros a serem incluídos no cânone foram Hebreus, Tiago, 2Pedro, 2 e 3João, Judas e Apocalipse. Todos por motivos diferentes, mas uma vez aceites, nunca mais se levantaram dúvidas.



Princípios da Mordomia Cristã da Palavra
·         Inspiração - A Bíblia é inspirada por Deus. A inspiração não é um ditado em que os escritores se limitam a escrever o que lhes for dito.
·         Infalibilidade e Inerrância - Bíblia é exacta e não se contradiz. Os 66 livros da Bíblia concordam entre si, completam-se perfeitamente como uma unidade. A Bíblia é verdadeira, fidedigna e imutável.
·         Autoridade - A Bíblia é a autoridade em matéria de fé e conduta.
·         Interpretativa – A Bíblia auto interpreta-se.



A Bíblia é:
·         A Palavra de Deus -Toda a Escritura divinamente inspirada é proveitosa para ensinar, para redarguir, para corrigir, para instruir em justiçaNo sentido de que sendo inspirada traduz o coração de Deus
·         A revelação de Deus aos humanos
·         Eterna e Justa
·         Eterna e Estável
·         Doce (agradável, temperada, suave, afectuosa)
·         Farol (servir de guia e indicar a nossa posição)
·         Herança (como aquilo que se recebe por herança)
·         Conselheira (habilitada a prestar orientação e aconselhamento)
·         Privilégio (direito e regalia para quem a aceita)
·         Recompensa (prémio ou galardão)
·         Alimento



Cuidados a ter:
·         A Bíblia não é um livro de regras, mas de princípios. Os princípios servem para unir, as regras para diferenciar.
·         A Bíblia não é um mapa arqueológico, embora fale de lugares.
·         A Bíblia não é um manual de História, embora contenha factos históricos.
·         A Bíblia não é livro científico, embora contenha algumas curiosidades.
·         A Bíblia não transforma o cristão num justiceiro da Palavra para a fazer cumprir, esse é o trabalho de Deus.

Benefícios da Palavra
·         Segurança (confiança, certeza, afirmação)
·         Esperança (fé, esperar a vida eterna em Jesus Cristo)
·         Conforto (consolo nas aflições, comodidade)
·         Sabedoria (bom senso, prudência, rigor)
·         Alegria (estado momentâneo de contentamento)
·         Felicidade (estado permanente de satisfação)
·         Paz (serenidade, harmonia, conciliação, paciência)

Características de um Mordomo da Palavra
·         Leitor assíduo e dedicado
·         Medita todos os dias na Palavra
·         Não se envergonha e não se confunde
·         Obediente
·         Tem prazer no cumprimento
·         Desejo ardente de ser um cumpridor
·         Tem confiança na Palavra
·         Ama mais a Palavra que as riquezas
·         Guarda a Palavra no íntimo, para não ser roubada (Parábola do semeador)
·         Gosta de compartilhar a Palavra
·         Intercede junto ao Pai, para que todos tenham acesso à Palavra
·         Praticante dos seus princípios

É através da Bíblia que Deus quis que ficassem registados todos os eventos principais que digam respeito à natureza humana.
Não sendo um livro de História, tem o registo de muitos factos ligados à história do Homem. Por vezes a Bíblia regista factos violentos, para exprimir a tendência da humanidade para a maldade e violência, por isso é que a Bíblia aponta para Jesus, desde Génesis a Apocalipse, como a única forma de libertação e salvação.

Através da Bíblia Deus dá-se a conhecer de uma forma perfeitamente ao alcance de qualquer pessoa.

Como uma das formas que Deus se revela aos humanos é através da Sua Palavra, os cristãos como mordomos das coisas de Deus, devem fazer tudo para a distribuir e acima de tudo serem o reflexo do que lá está escrito.


Os mordomos são responsáveis em manter e preservar a propriedade e os direitos de tudo o que lhes é atribuído, e como Mordomos da Palavra, sabendo que os céus e a terra passarão mas que a Sua Palavra permanecerá, devem ser zelosos e fieis à sua essência e mater intacto o seu sentido.
 
A PALAVRA é uma bênção de Deus para a criação e é a ferramenta mais importante que o ser humano pode ter. As experiências pessoais e sensoriais de comunhão com o Deus vivo, podem ser importantes numa dada altura, mas vão-se apagando com o tempo e perdendo importância.
A PALAVRA é escrita, logo garantia de que não pode ser alterada. Sendo um registo fidedigno torna-se segurança para quem a possui e é um grande alicerce para a vida cristã. É o filtro da emoções e escândalo para as heresias.
Sabemos que Deus se manifesta das mais diversas formas, mas tem um grande zelo para que se cumpra a Sua PALAVRA.

Em momentos de ataques à sua postura, Jesus respondeu citando as escrituras.
Com tudo isto os cristãos são Mordomos da Palavra, e não são apenas administradores mas também zeladores de algo muito importante para Deus, e se é importante para Deus, para os Mordomos é fundamental, não apenas para a guardar mas para a viver.

Os cristãos são Mordomos da Palavra e devem ser por amor, fé e vocação e não por obrigação nem por tradição.


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