quarta-feira, 28 de agosto de 2013

MORDOMIA CRISTÃ: CONCEITO

 DEFINIÇÃO DE MORDOMIA

Para se iniciar o estudo do tema MORDOMIA CRISTÃ é necessário compreender o significado do próprio termo, para seguidamente alicerçar a doutrina e compreender as implicações na vida de cada crente.


MORDOMO - Significado
O significado da palavra mordomo tem variado consoante o tempo.
O dicionário de Português da Porto Editora dá o seguinte significado de mordomo.
1.         Administrador de casa ou estabelecimento por conta de outrem
2.         Encarregado ou contribuinte de uma festa de igreja
3.         Aquele que administra bens de confrarias ou irmandades
4.         Antigo magistrado encarregado de cobrar impostos, entregar citações e fazer execuções
                            
No entanto popularmente o termo mordomo é muito associado à palavra mordomias, que significa bem-estar, conforto material, regalias, privilégios, conceitos nada condignos com o propósito da figura do mordomo, que é o ofício da mordomia.

A palavra mordomo, em português, deriva do latim maiore- domu. No latim, maiore é maior ou principal, e domu, casa, a casa com tudo que ela contém e significa. Assim mordomo é o principal servo, o que administra a casa do seu senhor.
A palavra mordomo tem o mesmo significado do grego oikonomoV - oikonomos (oikoV - oikos, casa, e nomoV - nomos, governo).



CONCEITO DE MORDOMIA CRISTÃ
A mordomia cristã é a administração de alguns dos direitos e das possessões de Deus de acordo com a Sua vontade.

 
PRINCÍPIOS DA MORDOMIA CRISTÃ
Criacionismo
O princípio fundamental do cristão é a da consciência do Deus criador de todas as coisas, e que tudo o que existe no planeta foi obra das suas mãos.

Propriedade
Deus não apenas criou, como mantém os direitos sob a Sua obra. Não cedeu nenhum tipo de direito a ninguém.

Soberania
Deus mantém a soberania sobre tudo. A Sua autoridade é inquestionável.

Respeitabilidade
Apesar de manter a propriedade e a soberania sobre todas as coisas, Deus trata os humanos com respeito e consideração. É a diferença entre servidão e mordomia.
Inclui-se nesta área a confiabilidade e a lealdade, que precisam de ser recíprocas.
Respeitabilidade é sinónimo de justiça que produz segurança. 

O ser humano é “apenas” um usufrutuário, ou seja, tem o direito de gozar temporária e plenamente as coisas e os direitos de Deus.
Ao reconhecermos a criação, a propriedade e a soberania de Deus, como cristãos, tornamo-nos usufrutuários responsáveis não apenas pela preservação da globalidade do planeta como possessão de Deus, mas também como depositários da vida.
Para isso Deus capacita com talentos e cabe a cada um o manejo responsável ao serviço do Reino.

Administrador é aquele que dirige os negócios de outrem, mas seguindo as instruções do proprietário. É responsável em manter e preservar a propriedade e os direitos de tudo o que lhe é atribuído. O mordomo/administrador deve ser confundido com o proprietário, assim, o MORDOMO CRISTÃO tem a responsabilidade de administrar a propriedade divina, seja física, moral, intelectual e espiritual, devendo ser um com o proprietário, embora seja incluído na propriedade.

AS CARACTERÍSTICAS DE UM MORDOMO

  • Conhecimento real de Deus
  • Leal – Honesto – Fiel - Sincero
  • Sujeito a Deus
  • Liberto da inveja e da cobiça

Sendo administradores, somos também a imagem visível do soberano tornando-nos responsáveis pela transmissão e manutenção da “boa imagem” de quem representamos. Equivale a dizer que somos responsáveis não apenas pela boa imagem do visível e espiritual, mas também pela imagem dos procedimentos de Cristo.
A MORDOMIA CRISTÃ está ligada ao serviço prestado em lugar do Senhor.

A MORDOMIA CRISTÃ não pode ser encarada parcelarmente, tem que ser vivida na globalidade. Não se é um bom mordomo numa área e descuidado na outra. Mordomo de Deus é na totalidade.
Não se é mordomo na igreja e proprietário na vida privada.
Não se deve agir de uma maneira na vida espiritual e de outra maneira na vida mundana e material.

RELAÇÃO ENTRE MORDOMIA E FÉ
A fé vem pelo ouvir a palavra de Deus” (Rm10:17), e “a salvação vem pela fé e não pelo esforço das pessoas para que ninguém se glorie” (Ef 2:8-9)
A MORDOMIA CRISTÃ é a acção prática da fé, pois a “fé sem obras é vazia” (Tg 2:26), assim sendo a fé coopera com a prática, “para se aperfeiçoar através das obras”(Tg 2:22).


Se acção prática da fé é a MORDOMIA CRISTÃ, então a MORDOMIA CRISTÃ é a demonstração prática da salvação.
  

RELAÇÃO ENTRE MORDOMIA CRISTÃ E MUNDANISMO

A MORDOMIA CRISTÃ tem de ser analisada na perspectiva para onde aponta a fé. Esta questão não faz sentido a quem não acredita ou que a sua fé ainda não tem raízes suficientes para se libertar do egocentrismo pessoal.
A MORDOMIA CRISTÃ também só faz sentido para quem acredita num Deus criador e mantenedor de todo o universo.

Os princípios básicos da MORDOMIA CRISTÃ e o conceito que analisámos entra em choque com a natureza humana e a sua loucura independentista.

O ser humano sem Cristo prefere:
  • Declarar-se independente para não depender de ninguém;
  • Confiar nele próprio e rebaixar-se ao recusar a natureza divina (somos criados à semelhança de Deus);
  • Acreditar que a ciência é uma invenção sua, em vez da descoberta do que Deus fez;
  • Submeter-se aos falsos deuses, que ele próprio inventa para satisfazer a sua maldade;
  • Acreditar nas potestades da maldade, julgando que as consegue controlar;
  • Acreditar que evolui para ser como um deus.

Ao declarar-se administrador e usufutruário da criação divina, o crente entra em conflito com as teorias evolucionistas e com filosofias hedonistas que dominam a sociedade.
Será considerado pouco inteligente ou pouco informado ou atrasado ou louco ou outros nomes tais, onde será completamente desconsiderado..

  
Ambiente
Sendo desconsiderado pelo mundo, o crente vive:
  • Num clima de desconfiança;
  • Fragilidade – muitos cristãos têm dificuldade em viver de acordo com a nova natureza;
  • Falta de demonstrações claras de que são realmente mordomos do Senhor do universo.

Missão
Mesmo com todas as limitações somos os únicos incumbidos de proclamar o evangelho e a superioridade de Cristo (1Pe 1:12)


REINO DE DEUS
O Reino, não é mais do que submeter-mo-nos à autoridade divina. É o domínio de Deus na vida de cada crente. Pertencer ao Reino é viver a finitude com dimensão eterna em Jesus Cristo. É a libertação da dimensão material interior e exterior nas quais fomos embutidos e entrarmos conscientemente e de livre vontade na dimensão da eternidade, para a qual fomos criados.

Reino de Deus é a autoridade de Deus na vida de cada crente. Embora tudo o que exista esteja submetido ao poder do criador, só pertencem ao Reino aqueles que de livre vontade o quiserem integrar com a aceitação de Nosso Senhor Jesus Cristo como Senhor e Salvador.  

O MORDOMO CRISTÃO submete-se à autoridade de Deus em liberdade e desfruta-a com prazer.


AUTORIDADE
Deus dá autoridade aos mordomos, para poderem exercer o ofício da mordomia

A autoridade vem através da fé, com a capacitação através de ferramentas atribuídas a cada mordomo em particular e também ferramentas comunitárias

Deus capacita cada um individualmente com TALENTOS – DONS DE SERVIÇO – DONS ESPIRITUAIS para o serviço

Ser MORDOMO não é apenas ser-se administrador e usufrutuário das possessões e direitos de Deus
  • é também considerar-se parte da propriedade física e espiritual de Deus;
  • é colocar todas as disponibilidades ao serviço  quer seja o próprio, os seus bens ou os seus talentos e dons;
  • é aceitar a soberania de Deus com alegria;
  • é utilizar a autoridade de Deus com humildade e respeito;
  • é saber que é uma ferramenta útil;
  • é saber lidar com outros mordomos, que têm outras responsabilidades, mas que têm de se encaixar na perfeição uns com os outros;
  • é saber servir os outros, como se fosse para Deus;
  • é dar mais do que lhe é pedido;
  • é deitar a mão ao que for necessário, para o bom desempenho da comunidade e dos seus objectivos comuns.

O mordomo/administrador deve desejar e buscar a sabedoria que vem do alto para poder ser eficaz no ofício da mordomia.


Cada crente deve ter a noção de que é um MORDOMO, e que lhe vão ser imputadas responsabilidades assim como vai ser avaliado no devido tempo.



PERIGOS
O crente, não está sujeito apenas aos seus caprichos e fraquezas, como ainda tem que lidar com as potestades da maldade, que têm uma larga experiência em enganar os humanos e cujo único objectivo e afastá-los do Pai e do Seu amor, levando-os assim a perderem o ofício da MORDOMIA CRISTÃ.
As técnicas utilizadas são muitas, mas podem-se resumir a alguns princípios que vão variando consoante a estratégia.

  • Eliminar defesas;
  • Tentar descredibilizar (mostrar que o interlocutor de certa maneira é ignorante);
  • Mostrar que a vontade e soberania de Deus, são rígidas, não passam de caprichos e que são inconcebíveis;
  • Afastar de Deus ou tentar provar que Deus não existe;
  • Levar as pessoas a tomar uma decisão que as afaste definitivamente de Deus.


Se os princípios da mordomia não estiverem presentes no coração, o crente pode perder o sentido de orientação e voltar-se para si próprio entrando numa espiral de perdição, julgando que pode ser como Deus, perdendo assim a noção da diferença entre o espiritual e o material, podendo ficar convencido que pode dominar e controlar em ambas as áreas, mesmo sabendo pela experiência prática que é um ser finito e limitado.

O mordomo vai ser constantemente desafiado para se desviar do ofício da mordomia e colocar no seu lugar a auto-gestão.
Vai ser desafiado também para a nulidade do ofício da mordomia em proveito dos outros e de Deus, para se centrar nele próprio.
O crente/mordomo deve criar defesas e métodos para se manter actualizado e preparado para as batalhas constantes que vai ter de travar para se manter dinâmico, capaz, crente e fiel.


ANÁLISE DA QUEDA
 (Gn 2:15-17 e Gn 3:1-6)

Gn 2:15 Instauração do ofício da mordomia

Eva e a serpente, falam como se se conhecessem bem. Para se falar sobre coisas sérias tem de haver algum conhecimento ou relacionamento. Tem de haver alguma abertura, para poder haver absorção de informação.
De inicio Satanás nunca aparece com argumentos violentos, normalmente parecem sempre muito lógicos, é o eliminar das defesas.

1)      Eliminar defesas
Perguntou a serpente a Eva: “É assim que Deus disse: Não comereis de toda a árvore do jardim?”(Gn 3:1)
Não foi o que Deus, tinha ordenado em Gn 2:17. A pergunta é uma descarada alteração das ordens de Deus, mas é o suficiente para começar a criar a dúvida e o sentimento de ignorância.
E respondeu Eva: “ Mas do fruto da árvore que está no meio do jardim, disse Deus: Não comereis dele, nem nele tocareis para que não morrais.” (Gn3:3)
Acrescentou, o não tocar. Mostrou algum desconforto de ter de se sujeitar a Deus.
O desconforto com a vontade soberana de Deus, abre a porta aos desejos (concupiscências).

2)      Tentar descredibilizar (mostrar que o interlocutor de certa maneira é ignorante)
Ao ser atraída para os desejos e sentir-se desconfortável com a vida, Eva permitiu ser corrigida e instruída por aquele que levantou a dúvida.
“Então a serpente disse à mulher: Certamente não morrereis.” (Gn3:4), é o inicio de um novo ensinamento.
Pequena alteração na ordem de Deus em (Gn 2:17) “Certamente morrerás”.
É a técnica do não faz mal, do Deus não é carrasco, certamente não é assim tão grave, Deus não castiga assim as pessoas, etc, etc, etc.
É a técnica das falsas doutrinas, alteram o que está escrito, mudam o contexto, para ver se apanham os imprudentes, os descontentes e os ignorantes.

3)      Mostrar que a vontade e soberania de Deus, são rígidas, não passam de caprichos e que são inconcebíveis
“Porque Deus sabe que no dia em que dele comerdes se abrirão os vossos olhos, e sereis como Deus, sabendo o bem e o mal.”(Gn 3:5)
Frase de uma razão pervertida pelo desejo e visão de auto-exaltação
Mexe no íntimo do orgulho e tenta desmontar o conceito que as pessoas têm de Deus
Tenta mostrar um deus invejoso e inseguro das suas capacidades. O objectivo é aprofundar a dúvida já instalada e mostrar que o deus em que se acredita, não é assim tão deus como isso.
4)      Afastar de Deus
“ E viu a mulher que aquela árvore era boa para se comer, e agradável aos olhos, e árvore desejável para dar entendimento” (Gn3:6)
Ao levar a interiorizar a dúvida, o inimigo atinge o objectivo, que é levar as pessoas a deixarem-se engodar pelos prazeres que julgam ser a própria vida. Levam as pessoas a afastarem-se de Deus e viveram para as suas atracções naturais (1Jo 2:16 – Concupiscência da carne, concupiscência dos olhos e soberba da vida)

5)      Levar as pessoas a tomar uma decisão que as afaste definitivamente de Deus
“Tomou do seu fruto, e comeu, e deu também a seu marido, e ele comeu com ela”(Gn 3:6)

Depois de levar as pessoas a viver exacerbadas nos seus desejos, corrompendo o objectivo para que foram criadas, o peso do pecado, não deixa os humanos a quererem ficar sós, sentem a necessidade de arrastarem consigo quem os rodeia, podendo contaminar e desviar
toda uma comunidade.


Ser mordomo da coisas de Deus, é viver de acordo com o princípio da criação, é viver na certeza de que o Deus criador quer o melhor para si.
 







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