DEFINIÇÃO
DE MORDOMIA
Para se iniciar o estudo do tema MORDOMIA
CRISTÃ é necessário compreender o significado do próprio termo, para
seguidamente alicerçar a doutrina e compreender as implicações na vida de cada
crente.
MORDOMO - Significado
O significado da palavra mordomo
tem variado consoante o tempo.
O dicionário de Português da Porto Editora dá o seguinte
significado de mordomo.
1. Administrador
de casa ou estabelecimento por conta de outrem
2. Encarregado
ou contribuinte de uma festa de igreja
3. Aquele que
administra bens de confrarias ou irmandades
4. Antigo
magistrado encarregado de cobrar impostos, entregar citações e fazer execuções
No entanto popularmente o termo mordomo é muito associado à
palavra mordomias, que significa bem-estar, conforto material, regalias,
privilégios, conceitos nada condignos com o propósito da figura do mordomo, que
é o ofício da mordomia.
A palavra mordomo, em português, deriva do latim maiore-
domu. No latim, maiore é maior ou principal, e domu, casa, a casa com tudo que
ela contém e significa. Assim mordomo é o principal servo, o que administra a
casa do seu senhor.
A palavra mordomo tem o mesmo significado do grego oikonomoV
- oikonomos (oikoV - oikos, casa, e nomoV - nomos, governo).
CONCEITO
DE MORDOMIA CRISTÃ
A
mordomia cristã é a administração de alguns dos direitos e das possessões
de Deus de acordo com a Sua vontade.
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PRINCÍPIOS DA MORDOMIA CRISTÃ
Criacionismo
O princípio fundamental do cristão é a da consciência do
Deus criador de todas as coisas, e que tudo o que existe no planeta foi obra
das suas mãos.
Propriedade
Deus não apenas criou, como mantém os direitos sob a Sua
obra. Não cedeu nenhum tipo de direito a ninguém.
Soberania
Deus mantém a soberania sobre tudo. A Sua autoridade é
inquestionável.
Respeitabilidade
Apesar de manter a propriedade e a soberania sobre todas as
coisas, Deus trata os humanos com respeito e consideração. É a diferença entre
servidão e mordomia.
Inclui-se nesta área a confiabilidade e a lealdade, que
precisam de ser recíprocas.
Respeitabilidade é sinónimo de justiça que produz
segurança.
O ser humano é “apenas” um usufrutuário, ou seja, tem
o direito de gozar temporária e plenamente as coisas e os direitos de Deus.
Ao reconhecermos a criação, a propriedade e a soberania de
Deus, como cristãos, tornamo-nos usufrutuários responsáveis não apenas pela
preservação da globalidade do planeta como possessão de Deus, mas também como
depositários da vida.
Para isso Deus capacita com talentos e cabe a cada um o
manejo responsável ao serviço do Reino.
Administrador é aquele que dirige os negócios de outrem, mas
seguindo as instruções do proprietário. É responsável em manter e preservar a
propriedade e os direitos de tudo o que lhe é atribuído. O
mordomo/administrador deve ser confundido com o proprietário, assim, o MORDOMO
CRISTÃO tem a responsabilidade de administrar a propriedade
divina, seja física, moral, intelectual e espiritual, devendo ser um com o
proprietário, embora seja incluído na propriedade.
AS CARACTERÍSTICAS DE UM MORDOMO
- Conhecimento
real de Deus
- Leal
– Honesto – Fiel - Sincero
- Sujeito
a Deus
- Liberto
da inveja e da cobiça
Sendo administradores, somos também a imagem visível do
soberano tornando-nos responsáveis pela transmissão e manutenção da “boa
imagem” de quem representamos. Equivale a dizer que somos responsáveis não
apenas pela boa imagem do visível e espiritual, mas também pela imagem dos
procedimentos de Cristo.
A MORDOMIA CRISTÃ está ligada ao serviço prestado em lugar do Senhor.
A MORDOMIA CRISTÃ não pode ser encarada parcelarmente, tem que
ser vivida na globalidade. Não se é um bom mordomo numa área e descuidado na
outra. Mordomo de Deus é na totalidade.
Não se é mordomo na igreja e
proprietário na vida privada.
Não se deve agir de uma maneira
na vida espiritual e de outra maneira na vida mundana e material.
RELAÇÃO ENTRE
MORDOMIA E FÉ
“A fé vem pelo ouvir a palavra de Deus” (Rm10:17), e
“a salvação vem pela fé e não pelo esforço das pessoas para que ninguém se
glorie” (Ef 2:8-9)
A MORDOMIA CRISTÃ é a acção prática da fé, pois a “fé sem obras é vazia” (Tg
2:26), assim sendo a fé coopera com a prática, “para se aperfeiçoar através
das obras”(Tg 2:22).
Se acção prática da fé é a MORDOMIA CRISTÃ, então a MORDOMIA CRISTÃ é a demonstração
prática da salvação.
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RELAÇÃO ENTRE MORDOMIA CRISTÃ E MUNDANISMO
A MORDOMIA CRISTÃ tem de ser analisada na perspectiva para
onde aponta a fé. Esta questão não faz sentido a quem não acredita ou que a sua
fé ainda não tem raízes suficientes para se libertar do egocentrismo pessoal.
A MORDOMIA CRISTÃ também só faz sentido para quem acredita num
Deus criador e mantenedor de todo o universo.
Os princípios básicos
da MORDOMIA CRISTÃ e
o conceito que analisámos entra em choque com a natureza humana e a sua loucura
independentista.
O ser humano sem
Cristo prefere:
- Declarar-se
independente para não depender de ninguém;
- Confiar nele
próprio e rebaixar-se ao recusar a natureza divina (somos criados à
semelhança de Deus);
- Acreditar que a
ciência é uma invenção sua, em vez da descoberta do que Deus fez;
- Submeter-se aos
falsos deuses, que ele próprio inventa para satisfazer a sua maldade;
- Acreditar nas
potestades da maldade, julgando que as consegue controlar;
- Acreditar que
evolui para ser como um deus.
Ao declarar-se
administrador e usufutruário da criação divina, o crente entra em conflito com
as teorias evolucionistas e com filosofias hedonistas que dominam a sociedade.
Será considerado
pouco inteligente ou pouco informado ou atrasado ou louco ou outros nomes tais,
onde será completamente desconsiderado..
Ambiente
Sendo desconsiderado
pelo mundo, o crente vive:
- Num clima de
desconfiança;
- Fragilidade –
muitos cristãos têm dificuldade em viver de acordo com a nova natureza;
- Falta de
demonstrações claras de que são realmente mordomos do Senhor do universo.
Missão
Mesmo com todas as
limitações somos os únicos incumbidos de proclamar o evangelho e a
superioridade de Cristo (1Pe 1:12)
REINO DE DEUS
O Reino, não é mais do que
submeter-mo-nos à autoridade divina. É o domínio de Deus na vida de cada
crente. Pertencer ao Reino é viver a finitude com dimensão eterna em Jesus
Cristo. É a libertação da dimensão material interior e exterior nas quais fomos
embutidos e entrarmos conscientemente e de livre vontade na dimensão da
eternidade, para a qual fomos criados.
Reino de Deus é a autoridade de
Deus na vida de cada crente. Embora tudo o que exista esteja submetido ao poder
do criador, só pertencem ao Reino aqueles que de livre vontade o quiserem
integrar com a aceitação de Nosso Senhor Jesus Cristo como Senhor e Salvador.
O MORDOMO CRISTÃO submete-se à autoridade de Deus em liberdade e
desfruta-a com prazer.
AUTORIDADE
Deus dá autoridade aos mordomos,
para poderem exercer o ofício da mordomia
A autoridade vem através da fé,
com a capacitação através de ferramentas atribuídas a cada mordomo em
particular e também ferramentas comunitárias
Deus capacita cada um
individualmente com TALENTOS – DONS DE SERVIÇO – DONS ESPIRITUAIS para o
serviço
Ser MORDOMO não é apenas ser-se administrador e usufrutuário das
possessões e direitos de Deus
- é também
considerar-se parte da propriedade física e espiritual de Deus;
- é colocar
todas as disponibilidades ao serviço
quer seja o próprio, os seus bens ou os seus talentos e dons;
- é aceitar a
soberania de Deus com alegria;
- é utilizar
a autoridade de Deus com humildade e respeito;
- é saber que
é uma ferramenta útil;
- é saber
lidar com outros mordomos, que têm outras responsabilidades, mas que têm
de se encaixar na perfeição uns com os outros;
- é saber
servir os outros, como se fosse para Deus;
- é dar mais
do que lhe é pedido;
- é deitar a
mão ao que for necessário, para o bom desempenho da comunidade e dos seus
objectivos comuns.
O mordomo/administrador deve
desejar e buscar a sabedoria que vem do alto para poder ser eficaz no ofício da
mordomia.
Cada crente deve ter a noção de que é um MORDOMO, e que lhe vão
ser imputadas responsabilidades assim como vai ser avaliado no devido tempo.
PERIGOS
O crente, não está sujeito apenas
aos seus caprichos e fraquezas, como ainda tem que lidar com as potestades da
maldade, que têm uma larga experiência em enganar os humanos e cujo único
objectivo e afastá-los do Pai e do Seu amor, levando-os assim a perderem o
ofício da MORDOMIA CRISTÃ.
As técnicas utilizadas são
muitas, mas podem-se resumir a alguns princípios que vão variando consoante a estratégia.
- Eliminar defesas;
- Tentar descredibilizar (mostrar que o interlocutor de certa maneira é ignorante);
- Mostrar que a vontade e soberania de Deus, são rígidas, não passam de caprichos e que são inconcebíveis;
- Afastar de Deus ou tentar provar que Deus não existe;
- Levar as pessoas a tomar uma decisão que as afaste definitivamente de Deus.
Se os princípios da mordomia não
estiverem presentes no coração, o crente pode perder o sentido de orientação e
voltar-se para si próprio entrando numa espiral de perdição, julgando que pode
ser como Deus, perdendo assim a noção da diferença entre o espiritual e o
material, podendo ficar convencido que pode dominar e controlar em ambas as
áreas, mesmo sabendo pela experiência prática que é um ser finito e limitado.
O mordomo vai ser constantemente
desafiado para se desviar do ofício da mordomia e colocar no seu lugar a
auto-gestão.
Vai ser desafiado também para a
nulidade do ofício da mordomia em proveito dos outros e de Deus, para se
centrar nele próprio.
O crente/mordomo deve criar
defesas e métodos para se manter actualizado e preparado para as batalhas
constantes que vai ter de travar para se manter dinâmico, capaz, crente e fiel.
ANÁLISE
DA QUEDA
(Gn 2:15-17 e Gn 3:1-6)
Gn 2:15 Instauração do ofício da
mordomia
Eva e a serpente, falam como se
se conhecessem bem. Para se falar sobre coisas sérias tem de haver algum
conhecimento ou relacionamento. Tem de haver alguma abertura, para poder haver
absorção de informação.
De inicio Satanás nunca aparece
com argumentos violentos, normalmente parecem sempre muito lógicos, é o
eliminar das defesas.
1) Eliminar
defesas
Perguntou a serpente a Eva: “É assim que Deus disse: Não comereis de
toda a árvore do jardim?”(Gn 3:1)
Não foi o que Deus, tinha
ordenado em Gn 2:17. A pergunta é uma descarada alteração das ordens de Deus,
mas é o suficiente para começar a criar a dúvida e o sentimento de ignorância.
E respondeu Eva: “ Mas do fruto
da árvore que está no meio do jardim, disse Deus: Não comereis dele, nem nele
tocareis para que não morrais.”
(Gn3:3)
Acrescentou, o não tocar. Mostrou
algum desconforto de ter de se sujeitar a Deus.
O desconforto com a vontade
soberana de Deus, abre a porta aos desejos (concupiscências).
2) Tentar
descredibilizar (mostrar que o interlocutor de certa maneira é ignorante)
Ao ser atraída para os desejos e
sentir-se desconfortável com a vida, Eva permitiu ser corrigida e instruída por
aquele que levantou a dúvida.
“Então a serpente disse à
mulher: Certamente não morrereis.”
(Gn3:4), é o inicio de um novo ensinamento.
Pequena alteração na ordem de
Deus em (Gn 2:17) “Certamente
morrerás”.
É a técnica do não faz mal, do Deus não é carrasco, certamente não é assim
tão grave, Deus não castiga assim as pessoas, etc, etc, etc.
É a técnica das falsas doutrinas, alteram o que está escrito, mudam o
contexto, para ver se apanham os imprudentes, os descontentes e os ignorantes.
3) Mostrar
que a vontade e soberania de Deus, são rígidas, não passam de caprichos e que
são inconcebíveis
“Porque
Deus sabe que no dia em que dele comerdes se abrirão os vossos olhos, e sereis
como Deus, sabendo o bem e o mal.”(Gn 3:5)
Frase de uma razão pervertida
pelo desejo e visão de auto-exaltação
Mexe no íntimo do orgulho e tenta
desmontar o conceito que as pessoas têm de Deus
Tenta mostrar um deus invejoso e
inseguro das suas capacidades. O objectivo é aprofundar a dúvida já instalada e
mostrar que o deus em que se acredita, não é assim tão deus como isso.
4) Afastar
de Deus
“ E viu a mulher que aquela
árvore era boa para se comer, e agradável aos olhos,
e árvore desejável
para dar entendimento” (Gn3:6)
Ao levar a interiorizar a dúvida,
o inimigo atinge o objectivo, que é levar as pessoas a deixarem-se engodar
pelos prazeres que julgam ser a própria vida. Levam as pessoas a afastarem-se
de Deus e viveram para as suas atracções naturais (1Jo
2:16 – Concupiscência da carne, concupiscência dos olhos e soberba da vida)
5) Levar
as pessoas a tomar uma decisão que as afaste definitivamente de Deus
“Tomou do seu fruto, e comeu,
e deu também a seu marido, e ele comeu com ela”(Gn 3:6)
Depois de levar as pessoas a
viver exacerbadas nos seus desejos, corrompendo o objectivo para que foram
criadas, o peso do pecado, não deixa os humanos a quererem ficar sós, sentem a
necessidade de arrastarem consigo quem os rodeia, podendo contaminar e desviar
toda uma comunidade.
Ser mordomo da
coisas de Deus, é viver de acordo com o princípio da criação, é viver na
certeza de que o Deus criador quer o melhor para si.
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